(PT)
Fernando Luís Cardoso de Menezes de Tavares e Távora nasceu
em 25 de agosto de 1923 na freguesia de Santo Ildefonso, no Porto, no seio de
uma família conservadora, descendente da nobre linhagem dos Távoras. É filho de
Dom José Pinto de Tavares Ferrão (1882-1967), Senhor da Casa da Amoreira das
Tenentas, Anadia, representante do Vínculo de Fontechão, Bacharel em Direito
pela Universidade de Coimbra e ferrenho integrista lusitano, e de sua mulher, e
prima em 2º grau, D. Maria José Lobo de Sousa Machado e Couros, Senhora das
Casas de São Domingos de Recardães, da Covilhã, do Miradouro e do Costeado e
proprietária em Guimarães, Braga e Felgueiras (1892-1951). Foi Senhor da Casa
da Covilhã, Fermentões (Guimarães), mas, ao contrário dos seus irmãos, Bernardo
Ferrão de Tavares e Távora e Rodrigo Ferrão e Noronha, não usou o título de
Dom. Passou os primeiros anos da sua vida nas propriedades da família, no
Minho, na Bairrada e nas praias da Foz do Douro, revelando desde cedo a sua
aptidão para o desenho e o seu interesse por casas antigas. Concluído o curso
liceal do Segundo Ciclo no Liceu Alexandre Herculano, em 1940, com a
classificação de dezasseis valores, fez o exame de admissão à Escola de Belas
Artes do Porto, em 1941, para frequentar o Curso Especial de Arquitetura,
contrariando, deste modo, a vontade da família que o queria ver licenciado em
Engenharia Civil, um curso, a seu ver, mais prestigiante e mais concordante com
a sua condição social. A clássica educação familiar e formação inicial foram
complementadas pela cultura moderna da educação universitária. Durante quatro
anos frequentou o Curso Especial de Arquitetura, inscrevendo-se de seguida no
Curso Superior de Arquitetura, em setembro de 1945, no decurso do qual estagiou
com o Arquiteto Francisco Oldemiro Carneiro e realizou vários projetos nos anos
de 1946 e 1947 (sobre grande composição, construção geral, composição
decorativa, arqueologia e urbanização). Em 1947 publicou o ensaio "O
problema da casa portuguesa. Falsa arquitetura. Para uma arquitetura de hoje”,
onde sintetizou a noção de uma arquitetura moderna, mas enraizada na cultura, e
onde chamou a atenção para a necessidade de um estudo científico da arquitetura
popular portuguesa. No final do estágio profissional, em 31 de março de 1950, o
seu orientador declarou que ele tinha sido seu colaborador, desde 20 de
dezembro de 1947, e se encontrava apto para desempenhar a profissão escolhida.
Em 1952, no Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquiteto (CODA), apresentou
o projeto Uma Casa sobre o Mar, com o qual obteve a brilhante classificação de
dezanove valores, mas que nunca foi concretizado. Entretanto, em 1955, integrou
a equipa responsável pelo "Inquérito à Arquitetura Regional
Portuguesa", um trabalho pioneiro no estudo da arquitetura nacional, promovido
pelo Sindicato Nacional dos Arquitetos e publicado em 1961. A sua longa e
marcante carreira de docente universitário ligou-se, essencialmente, a três
instituições: à Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde começou a
lecionar, a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), que
ajudou a instalar (foi Presidente da sua Comissão Instaladora) e à Universidade
de Coimbra, mais concretamente ao Departamento de Arquitetura da Faculdade de
Ciências e Tecnologia, constituído com a sua colaboração nos anos oitenta do
século XX. Entre 1957 e 1958 prestou assistência graciosa na ESBAP, passando em
14 de abril de 1958 a 2º assistente do 1º grupo. Em 1962 (29 de junho), foi
nomeado Professor Agregado do 1º Grupo de Disciplinas e a 3 de abril de 1963
tomou posse das funções de 1º Assistente do 1º Grupo da ESBAP. Em 1970 (14 de
abril), foi contratado, por conveniência urgente de serviço, para professor do
1º Grupo, mantendo-se no cargo até 13 de maio de 1986. Na FAUP foi professor
associado, entre 14 de maio de 1986 e 24 de setembro de 1989, e professor
catedrático de 25 de setembro de 1989 a 24 de agosto de 1993. Pediu a
aposentação em 1993. Nas aulas vivas e cativantes deste professor competente e
interessado, os tradicionais diapositivos eram, por vezes, substituídos por
desenhos da sua autoria e os alunos instigados a viajar, tal como ele fez
durante toda a sua vida, por prazer e para estudar arquitetura e trabalhar.
Como poucos, participou, entre 1951 e 1959, nos Congressos Internacionais de
Arquitetura Moderna, da Conferência Internacional de Artistas da UNESCO de
Veneza, Hoddesdon, Aix-en-Provence, Dubrovnik and Otterlo, onde conheceu, entre
outros, a figura mítica do arquiteto Le Corbusier. Foi Bolseiro da Fundação
Calouste Gulbenkian e do Instituto para a Cultura nos Estados Unidos e Japão
(1960). Em 9 de fevereiro de 1954 contraíra matrimónio no Mosteiro de Nossa
Senhora do Pilar, em Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, com D. Maria Luísa
Rebelo de Carvalho Menéres (1930-), licenciada em Artes Plásticas pela Escola
Superior de Belas-Artes do Porto, de quem teve três filhos: José Bernardo
Menéres de Tavares e Távora, Maria José Menéres de Tavares e Távora e Luísa
Teresa Menéres Tavares e Távora. Os seus projetos arquitetónicos construídos,
tais como o Mercado Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59), o Pavilhão de
Ténis da Quinta da Conceição, em Matosinhos (1956-1960), a Casa de Férias no
Pinhal de Ofir, em Fão (1957-1958), a Ampliação das instalações da Assembleia
da República, em Lisboa (1994-1999) ou a Casa da Câmara/Casa dos 24, no Porto
(1995-2002), refletem um forte sentido de responsabilidade social na forma como
associa a criatividade à criteriosa abordagem ao sítio, aos pormenores técnicos
e à funcionalidade da obra. Na área da conservação do património deixou
trabalhos inigualáveis, como a recuperação do Convento de Santa Marinha da
Costa e sua transformação em Pousada (1975-1984) e a redescoberta e
reabilitação do Centro Histórico de Guimarães (1985-1992), classificado como Património
da Humanidade pela UNESCO em 2001; o projeto de remodelação e expansão do Museu
Nacional de Soares dos Reis (1988-2001) e o restauro exemplar do Palácio do
Freixo e áreas envolventes, no Porto (1996-2003). Foi também arquiteto da
Câmara Municipal do Porto e Consultor da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia,
do CRUARB (Comissariado para a Recuperação Urbana da Área da Ribeira -
Barredo), da Comissão de Coordenação da Região Norte e do Gabinete Técnico da
Câmara Municipal de Guimarães. Foi Membro Conselheiro do Comité de Cursos de
Campo de Arquitetura da Comunidade Económica Europeia. Fernando Távora faleceu
a 3 de setembro de 2005. Ficou a obra de um dos maiores vultos da Arquitetura
Contemporânea Portuguesa, fundador e mestre da "escola do Porto", que
precocemente reconheceu talento no aluno Álvaro Siza e soube, como ninguém,
fazer a síntese entre a arquitetura tradicional nacional, marcante na sua obra
dos anos 50 e 60, e a arquitetura moderna internacional, bem presente nos seus
projetos dos anos 80 e 90 do século XX. É um autor da continuidade, avesso a
ruturas, para quem uma obra arquitetónica tem de ser entendida no contexto do
ambiente envolvente. Como o próprio dizia, "eu sou a arquitetura
portuguesa".
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