PORTO K1 
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P0 / P1 / P2 / P3 (Capela dos Alfaiates / Igreja de Santa Clara / Chafariz do Anjo / Casa da Rua D. Hugo nº5)









Capela dos Alfaiates (P0)
O nome desta capela provém do facto de a Confraria dos Alfaiates ter como padroeira a Nossa Senhora da Assunção e porque a festa à dita Senhora era realizada a 15 de agosto de cada ano. A capela, de planta retangular, abre para o exterior por um portal ladeado por duas colunas coríntias caneladas assentes em pedestais, sendo o portal rematado por um nicho com decoração flamenga, desenhado por Manuel Luís, em que se abriga uma imagem de barro de Nossa Senhora de agosto. No interior do templo, iluminado pela grande janela rasgada na fachada, a abóbada elevada sobre o espaço quadrado da nave é de cruzaria tardo-gótica, mostrando já motivos ornamentais maneiristas.Um arco cruzeiro de volta-redonda, assente em pilastras jónicas, separa a nave da capela-mor, sendo esta coberta por uma pequena abóbada de canhão, com dois tramos formados por caixotões de granito que arrancam de mísulas clássicas. O retábulo da capela-mor, também maneirista, divide-se em oito painéis que representam cenas da vida da Virgem e, iconograficamente, respeitam as prescrições do Concílio de Trento, divulgadas em Portugal, sobretudo a partir de 1580, através das Constituições Sinodais. As pinturas são atribuídas, entre outros, a Francisco Correia, tendo sido executadas provavelmente entre 1590 e 1600.
Ao centro, a imagem calcária da Nossa Senhora de agosto, mais antiga, mostra influências da imaginária norte-europeia.



Igreja de Santa Clara (P1)
No ano de 1758 escrevia-se sobre a igreja de Santa Clara: É a mais perfeita e asseada deste Reino, toda coberta de talha de ouro, e azul. A Igreja do Convento de Santa Clara, é o melhor exemplo que se pode apontar numa cidade fortemente timbrada pelo fenómeno do barroco. A Arte da Talha dourada e policromada, é uma das expressões que mais a notabiliza, enfatizando dessa forma a apropriação dos princípios da Reforma Católica (Natália Marinho Ferreira-Alves). Faz parte de um conjunto de edifícios - igrejas forradas a ouro - em que a madeira entalhada e policromada ocupa todas as superfícies parietais e coberturas do espaço sacro, provocando no crente a evasão sensorial e elevando-o a uma realidade supra-humana. O trabalho de talha da capela-mor e arco cruzeiro é a obra-prima de Miguel Francisco da Silva, arquiteto e entalhador, um dos melhores intérpretes do barroco joanino no Porto. A fundação do Convento de Santa Clara no Porto teve lugar no dia 28 de março de 1416, em ato processional de grande solenidade, estando ao lado do Bispo D. Fernando Guerra, o próprio rei D. João I, e os príncipes Fernando e Afonso. Colheu desde a fundação o envolvimento da realeza. Desta primeira fase são poucos os testemunhos materiais que resistiram. De tempos mais recentes merece referência o claustro, como construção que revela a assimilação dos princípios mais puros do maneirismo. Em 1667 tratam as monjas da construção do mirante. A transição do século XVII para o seguinte foi ainda assinalada por obras múltiplas nos dormitórios (1707-1715), portaria (com interessante portal de composição barroca) e dois coros. A partir de 1729 inicia-se o ciclo de transformação da igreja naquilo que hoje se mantém. O acesso à igreja faz-se lateralmente, como é regra nos conventos femininos, uma vez que do lado oposto à capela-mor se situavam os coros das religiosas. À entrada um pórtico em que se entrecruzam formas tardo-góticas e da renascença, sendo este no exterior o único elemento de algum recorte plástico, no conjunto da austeridade e singeleza revelado pela construção. O interior é formado pela nave, capela-mor e do lado oposto, os coros alto e baixo, com as respetivas grades de clausura que separavam os contactos entre fiéis e religiosas. Em 1729, sendo abadessa D. Isabel Visitação, promovem-se obras de pedraria na capela-mor, que visaram sobretudo, aumentar a altura dos muros e do arco triunfal tornando o espaço mais amplo e luminoso. Estas obras foram orientadas pelo arquiteto António Pereira, que na época dirigia transformação paralela na Sé do Porto. Estes mesmos princípios renovadores alastraram em 1732 à nave, demarcando-se a nova altura a partir das tribunas. Uma vez mais a preocupação da luz com a abertura de lunetas por cima das tribunas. Em planta, a igreja mantinha a forma anterior. A principal transformação foi conseguida não pela arquitetura mas pelo efeito cenográfico da talha e é nesta arte que as monjas polarizam o seu interesse, tornando-se a arquitetura anulada pelo efeito das formas reluzentes do cromatismo da talha e da imaginária que cobrem todas as estruturas interiores. Em 1730 a obra de talha da capela-mor e arco cruzeiro foi arrematada por Miguel Francisco da Silva. Um programa complexo sob o ponto de vista formal e iconográfico, sendo a banqueta e o sacrário posteriores. O resultado alcançado fazem do artista um vulto maior do barroco portuense, e da igreja conventual de Santa Clara uma das joias da arte barroca portuguesa, quer pela qualidade estética quer pela coerência de todo o conjunto.
Largo 1º de dezembro; 4000-404 Porto
Contactos: Tel: 222054837   Fax: 222078401




Chafariz do Anjo (P2)
Ao lado da galilé construída por Nasoni, encontra-se uma fonte - o Chafariz de S.Miguel (ou do Anjo) - também atribuída ao célebre arquiteto e pintor italiano. Nicolau Nasoni trabalhou no Porto de 1725 a 1773 e aqui casou com uma sua patrícia, em 1729.
No ano seguinte, já viúvo, voltou a casar, desta vez com uma portuguesa, e por cá ficou até à sua morte, em 1773, sendo sepultado (de acordo com a sua própria vontade) na igreja dos Clérigos, a obra mais emblemática de todas as que realizou na cidade.
O chafariz de S.Miguel, perfeitamente enquadrado no conjunto da catedral, é uma das obras menores de Nasoni, mas não deixa de ter alguma beleza arquitetónica.
Adoçado à parede da Casa do Despacho, da Sé, apresenta uma interessante moldura constituída por uma grade de ferro forjado (um belo exemplar das muitas obras do género semeadas em varandas, portas e janelas do Porto, durante os séculos XVII e XVIII) e um relevo em mármore, incrustado na parte superior da fonte. A rematar o conjunto, uma pequena escultura em pedra de ançã, representando o anjo S.Miguel, que dá o nome à fonte.




Casa da Rua de D. Hugo, nº5 (P3)
Esta casa localiza-se junto à muralha antiga do burgo, onde ainda é visível um dos lanços da primeira cerca medieval. A sua existência está envolta de diferentes épocas históricas algures entres os séculos XVII e XIX. O edifício original parece ter sido construído por dois corpos homogéneos, unidos por um pátio central. Tal como se pode ver atualmente parece ser uma obra do século XIX. A casa gótica contígua foi destruída, mas do lado exterior do prédio em restauro pode ver-se toda a parede sul, que se manteve porque foi incorporada pelo prédio mais recente. Sobrevivem também uma porta e uma janela cuja disposição nos permite imaginar que o espaço agora ocupado pelo prédio oitocentista estivera a céu aberto, situação que se inverteu. A casa aproveitou a parede medieval, que sofreu profundas transformações a partir do século XVII. A frontaria oeste parece ter avançado para o atual alinhamento da rua. No seu cunhal conserva-se uma pilastra da época (século XVII). A pilastra e a parede seiscentista foram alteadas, por sua vez, no século XIX. Nos anos 80, foram feitas escavações arqueológicas, no interior do edifício porque se supunha que no seu subsolo existiriam dados importantes sobre a origem do povoado. A existência de uma zona com forte contenção de terras fazia admitir (como se provou mais tarde), a possibilidade da estratigrafia se ter mantido aqui com grande clareza, permitindo uma fácil identificação das diversas fases de ocupação. As escavações vieram a revelar uma ocupação antiquíssima, remontando ao século IV - V a.C. Além disso, vieram a comprovar a hipótese acima referida de que na Idade Média o espaço tinha uma diferente utilização. De facto, apareceu o pavimento de uma rua secundária que ligava diretamente à muralha e pela qual se acederia à porta da casa gótica hoje demolida e cujo muro sul permanece incorporado no prédio restaurado.




 P4 / P5 / P6 (Casa Museu Guerra Junqueiro / Arco ou Porta de Sant'Ana das Aldas / Paço Episcopal) 

















Casa Museu Guerra Junqueiro (P4)
A atual Casa-Museu Guerra Junqueiro foi, inicialmente, a casa do cónego da Sé do Porto, Dr. Domingos Barbosa, que a mandou construir cerca de 1730. Tradicionalmente atribuído a Nicolau Nasoni (SMITH, 1966), este edifício tem vindo a ser reavaliado face aos novos estudos que o inscrevem na esfera de atuação de um outro arquiteto, António Pereira, a trabalhar no Porto sensivelmente na mesma época. Na verdade, é difícil determinar a autoria de algumas das obras atribuídas a ambos, principalmente no que respeita aos primeiros anos do italiano no nosso país, sendo que o Palácio de São João Novo, anteriormente referido como projeto de Nasoni é hoje considerado uma obra de António Pereira (ALVES, 2001). São as semelhanças entre as fachadas da Casa do Dr. Domingos Barbosa e do palácio de São João Novo que levaram determinados investigadores a atribuir a primeira ao risco de António Pereira (IDEM).
Independentemente do seu arquiteto, o edifício que foi residência do cónego da Sé, revela uma série de aspetos que importa destacar. Confina com a rua D. Hugo, do bairro da Sé em que se insere, através da fachada lateral marcada pela abertura das três janelas de sacada com gradaria da época e que são mencionadas no testamento do Cónego, com data de 1746 e que recordam as da fachada traseira da Casa do Despacho da Ordem Terceira de São Francisco, de Nasoni (SMITH, 1966). Já as respetivas bandeiras, de desenho exótico, são muito semelhantes às da capela da Quinta de Fafiães, desenhada pelo arquiteto italiano para Manuel Barbosa de Albuquerque, Chantre da Sé do Porto. Este alçado prolonga-se pelo muro que isola o pátio da via pública e que se impõe pela monumentalidade do portal, coroado por um par de leões e duas flores de lis, elementos heráldicos emprestados do brasão dos Barbosa de Albuquerque.
A fachada principal da casa caracteriza-se pelo espaço vazio que realça o desenho das molduras dos vãos, e por um sentido de verticalidade conferido não apenas pela composição das janelas, mas também pelas torres que rematam as extremidades do edifício. Estas, com os cantos chanfrados onde se abrem terraços, não podem deixar de recordar algumas das construções quinhentistas, denunciando talvez uma preocupação com um passado arquitetónico nacional. Por sua vez, as janelas de ambos os pisos ligam-se entre si, formando uma linha vertical, coroada por volutas e flores de lis, que ganha maior expressão no eixo central, com a porta de entrada, o frontão a sobrepuja, a janela e a sacada superior, mais elevada em relação às restantes.
No interior, merece especial referência, pela sua monumentalidade, a escadaria de acesso ao piso superior, que se encontra ao fundo da entrada.
Na posse da mesma família durante anos, a casa foi herdada pelo genro de Guerra Junqueiro (Luís Augusto Pinto de Mesquita Carvalho era casado com Isabel Maria, filha do escritor) e em 1940 foi doada pela sua filha à Câmara Municipal do Porto, com a condição de aí ser instalada uma Casa-Museu com as coleções de arte e literatura de Guerra Junqueiro, então também doadas à autarquia (o acervo tinha cerca de 600 peças).





Arco ou Porta de Sant'Ana das Aldas (P5)
Este Arco ou Porta de Sant'Ana das Aldas, um dos quatro das primeiras fortificações do velho burgo episcopal do Porto, celebrado e para sempre imortalizado pelo Visconde de Almeida Garrett, no seu romance histórico "O Arco de Sant'Ana", erguia-se outrora, quase a meio da rua do mesmo nome, e ao cimo da encosta que o seu corte em rocha ali forma, no trajeto para o Largo das Aldas, onde até meados do século XVI se erguia a desaparecida picota dos bispos, singela e alta coluna de granito, com seis ou sete argolas de ferro chumbadas ao redor e encimadas por um agudo espigão do mesmo metal, tudo isso firmado em quatro degraus de pedra toscamente lavrada. O Arco era de singela arquitetura, sem o mínimo gravado ou escultura na sua frontaria ou abóbada; no entanto o seu caráter e a sua feição especial, contribuíam poderosamente para dar à vetusta rua, toda calcetada por pequenas lages raiadas longitudinalmente a cinzel, um tom sobremaneira gracioso, pitoresco e original, que ainda hoje, à simples vista do seu desenho se compreende e avalia, e se vê bem quão errada e desastrosa. O Arco de Sant'Ana era estreito, um pouco tortuoso e alto, se bem que devido à estreiteza e acidentado da rua é a forma curvilínea por que está traçada, a impressão que se recebia era de menos elevação do que aquela que em verdade tinha; e pelos restos da arquitetura ogival que nele ainda se notavam, via-se bem que a sua construção ou talvez melhor dizendo, rompimento, não podia ir além da época em que o rei D. Fernando I, para captar as simpatias da cidade após o seu casamento com a célebre D. Leonor Telles, ordenara a continuação das obras de fortificação do Porto. Com o andar dos tempos e talvez devido à devoção que os habitantes da cidade tributavam à imagem a que o haviam consagrado, esse Arco tinha passado por diferentes transformações. Foi assim que por entre as ameias que outrora lhe guarneciam o cimo, lhe construíram, das casas do lado direito da rua e em direção à parede do lado esquerdo da mesma, uma espécie de passadiço de paredes de granito e coberto de telhado, com uma larga janela quadrada, moldurada e envidraçada, do lado da rua da Bainharia, e um pequeno postigo igualmente guarnecido, do outro lado da rua de Sant'Ana. A janela e o postigo denunciavam a sua configuração e emoldurados, terem sido executados em fins do século XVII e os restos das ameias que ainda se divisavam por baixo do passadiço, eram anualmente procurados pelas andorinhas, que ali se anichavam durante a primavera e verão. Quanto ao Arco, esse havia sido, em época desconhecida, inteiramente revestido pela parte interior e exterior, dos dois lados da rua, com cal e gesso, que de tempos a tempos se renovava, pintando-se-lhe por cima, a amarelo dourado, verde e vermelho, diferentes ornamentos. Pela parte inferior e na parte da abóbada, ainda se lhe notavam, se bem que tapadas, umas aberturas por onde certamente se descia, em caso de necessidade, grades de ferro ou madeira, ainda reforçadas por portas a meio do arco, das quais se divisavam os vestígios de buracos de ferrolhos, ou de passagem de trancas. Ao lado esquerdo do arco e num nicho ou oratório esguio e alto, guarnecido com uma moldura ou guarnição de estilo denunciativo dos fins do século XVIII, é que se achava colocada a imagem de Sant'Ana que dera ao nome à rua e ao Arco. O oratório, em cuja cimeira e numa espécie de escudete se achava gravada esta inscrição: «S. Anna succure miseris», era aberto na espessura de uma sólida e alta parede de cantaria que flanqueava o Arco, e que talvez noutros tempos fosse uma das faces de alguma torre defensora da porta, e que posteriormente desapareceu, ou mesmo se confundisse no interior das paredes do prédio contíguo. E do outro lado era de crer que fosse defendida de igual maneira. Pelo menos, a casa nºs 156 e 158 da velha Rua dos Mercadores, edificada em correspondência com a altura em que se erguia o Arco, e conhecida ainda hoje pelo nome de Casa da Torre, faz-nos supor que não teve outra origem, nem outro motivo de designação. O nicho ou oratório era envidraçado, e ao redor dele pendiam inúmeras velas e outras promessas de cera, quadradinhos com descrições dos milagres, etc. - e frente à imagem, pendente de um pequeno varão de ferro, um lampião de azeite que ali ardia dia e noite, sempre custeado pela dedicação das mulheres da cidade que consagravam de longa data à Senhora Sant'Ana do Arco uma especial devoção. Por baixo de oratório havia uma espécie de altar estreito, em cujo interior se arrecadavam diariamente as esmolas das devotas, e se guardava o azeite que quase quotidianamente ali iam levar, e que na maior parte se destinava à sustentação da luz do lampião acima referido. No alto do nicho havia uma sanefa de madeira dentada, lavrada e pintada a azul. Como já dissemos acima, o Arco de Sant'Ana das Aldas era uma das quatro portas da velha cidade do Porto, talvez mesmo um postigo aberto no extremo da muralha do lado norte, que nesse ponto quebrava em direção ao sul, correndo em seguida pelas traseiras da antiga Rua dos Mercadores, paralela à de Sant'Ana. O Arco começou a ser demolido em 2 de junho de 1821, a requerimento de Manoel Luís da Silva Leça, que do lado direito construirá ali uma casa, e António Joaquim Carvalho, proprietário na mesma rua. A imagem da Santa foi, sob o estandarte da irmandade dos sapateiros, curtidores, surradores e correeiros, conduzida na tarde de 29 de junho de 1821, em procissão e em magnífico andor, pelos mestres que nesse ano eram juízes ou tinham assento na Casa dos Vinte e Quatro (em que estes ofícios gozavam do direito de banco), para a capela de S. Crispim, e aí colocada em altar especial. Como porém esta capela e a sua anexa Albergaria dos Palmeiros, ambas situadas ao cimo da rua de S. João, fossem demolidas nos fins do século passado, para corte da atual Rua Mousinho da Silveira, foi outra vez conduzida a imagem para a nova capela que a irmandade de S. Crispim mandou edificar no alto da Rua de S. Jerónimo, e ainda ali se conserva em altar próprio, suposto que inteiramente ignorada ou ingratamente esquecida de quase toda a gente. Como recordação da Santa, não ficou no lugar mais do que uma reduzida imagem, metida num pequeníssimo santuário de madeira envidraçada, que ainda atualmente se vê, pendurado ou cravado na parede, junto às escadas de pedra que da Rua de Sant'Ana dão comunicação para a Rua de Pena Ventosa. Tanto a imagem de Sant'Ana do Arco, como de Nossa Senhora, que tem a seu lado, e o Menino Jesus, que ambas graciosamente sustentam entre si, são todas de preciosa escultura, e o mesmo se dá com o grupo dos oito querubins que, por entre rolos de nuvens, lhes rodeiam as fímbrias dos vestidos. A escultura de todo o grupo de imagens, bem como as valiosas coroas e resplendores de prata que as guarnecem, são tudo obras dos fins do século XVII e portanto da época muito posterior aquela que descreve Garrett, que tanto neste ponto, como na restante descrição que nos faz de diferentes detalhes do Arco e suas vizinhanças, caiu no erro de admitir como já existentes nos princípios do século XIV, e reinado de Pedro o Cruel, obras indiscutivelmente de épocas bem posteriores.





Paço Episcopal (P6)Atribui-se com frequência a iniciativa da construção do Paço Episcopal do Porto ao bispo D. Fr. João Rafael de Mendonça, que implicou a demolição total do antigo Paço e a encomenda deste novo projeto. No entanto, a construção da obra ir-se-ia prolongar durante vários anos e o bispo não chegaria a vê-la completa. Ainda assim, muitos trechos do traçado original foram alterados e outros terminados à pressa em prejuízo do conjunto global, estrutura, clareza e unidade arquitetónica. Porém, é consensual a influência de Nicolau Nasoni no alçado da frontaria, projetando-se em duas fachadas facilmente reconhecidas, a de ocidente e a de sul. Deste bloco, de digna imponência, majestosa e elegante mas não pesada, rasgam-se dezenas de janelas barrocas. Perto da Sé Catedral sobre penhascos colossais, a fachada principal ficou a mais baixa. Forem feitas várias obras de reconstrução do paço, tendo sido uma das mais importantes aquela efetuada pelo bispo D. Luís Pires, ao qual se deve o mérito de aumentar e organizar a importante biblioteca. A mais profunda remodelação seria durante a idade barroca, da iniciativa do Cabido da Sé. No eixo da composição ergue-se o conjunto portão-janela de honra. O brasão de armas, em pedra, sobrepõe-se ligeiramente ao friso do entablamento que decora a frontaria e acima do beirado eleva-se um frontão curvo e ornamentando, como coroamento do monumental eixo. O brasão é flanqueado de larga decoração. Sobre as lojas, para as quais se abrem cinco portas almofadadas e sete janelas baixas e gradeadas, avistam-se as 24 janelas do andar nobre, 12 de cada lado, unidas verticalmente duas a duas, alternando-se os ornamentos: uns festivos e outros menos ornamentados; cada uma destas janelas abre para varandins guarnecidos de ferro forjado e desenho delicado. O interior é composto por amplos salões, alguns exuberando excelentes peças de mobiliário, muitas salas, muitos quartos característicos da época anterior à sofrida expropriação. No fundo do vestíbulo desenvolve-se a escadaria nobre, com decoração mural bem posterior à do início do projeto, embora surpreendentemente concordantes no seu conjunto, tetos, lanternim, patamares, corrimões, a entrada do andar nobre, um verdadeiro portal palaciano.

Terreiro da Sé
Escadas do Barredo (à Sé); 4050 Porto




P7 / P8 (Sé do Porto / Igreja dos Grilos)



Sé Catedral do Porto (P7)
O monumento mais antigo e catedral portuense, a Sé, provém do século XII após a eleição do Bispo D. Hugo, Arcediago da Sé de Compostela. Foi a este que em 1120 a rainha Dª Teresa doou o burgo portucalense e o seu respetivo couto de onde proveio a dita catedral. D. Hugo é além de restaurador desta mui nobre cidade, o mentor deste honroso património que a Comissão mundial denominou de Património Mundial. A Sé portuense, de origem românica fica situada no monte da Penaventosa, também chamado de Terreiro da Sé. Conta-se que a primeira pedr a foi assente pela rainha Dª Teresa viuva do conde D. Henrique, só vindo a ser concluída já no reinado de D. Dinis. A sua decoração primitiva foi baseada na Sé velha de Coimbra. No entanto com o passar dos tempos esta catedral sofreu diversas alterações que lhe apagaram os traços primitivos. Anos mais tarde o artista fiorentino Nicolau Nasoni barroquisou-a desenhando-lhe as pinturas murais da capela-mor e construindo-lhe a galilé (parte alpendrada e sustentada por colunas). A fachada principal é enquadrada por duas torres. O portal, agora em estilo rococó, substituiu o primitivo em estilo românico destruído em 1722. A sua construção é sustentada por colunas encimadas por um frontão, tendo a meio um varandim com pequenas colunas. Na parte superior a rosácea encontra-se uma sinecura com a imagem de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da catedral, pertencente ao século XVIII. Esta rosácea, datada do século XIII, foi sempre conservada. Tem a sustentar-lhe os raios arcos tribolados e a envolve-la folhas de figueira. Há duas cruzes a rematar a construção, uma em estilo românico e a outra em estilo gótico. Este templo está dividido em três naves, sendo a central de maior altura que as colaterais. As naves estão cobertas por abobadas ogivadas e os arcos assentam em pilastras dispostas em feixes, toda a decoração é fitomórfica (motivos vegetais), iluminada pela esplendorosa rosácea e pelas frestas altas do clerestório do transcepto a luz penetra nas naves central e colaterais numa conjunção harmoniosamente celestial. A capela-mor é da autoria do Frei Gonçalo de Morais e data dos princípios do século XVII. Esta capela-mor de estilo clássico é toda decorada a mármore, possui dois órgãos, duas magnificas tribunas e admiráveis ornamentos em madeira com belas esculturas. As grades do coro são em bronze artisticamente trabalhadas e a grade que separa a capela-mor do corpo da igreja tem um corrimão em mármore preto. A pia batismal é igualmente de mármore e reside sobre um pedestal em jeste branco e mármore roxo. Fixas nas penúltimas pilastras encontramos algumas pias de água benta em mármore talhadas em forma de concha. Nas partes laterais do templo deparamos com diversas capelas, entre as quais figuram a do Santíssimo Sacramento ornamentada com um retábulo em prata e um ilustre sacrário envolto em apainelados que relatam passagens da sagrada escritura gravado em baixo-relevo. Nesta área do templo podemos ainda admirar as capelas de S. João Evangelista, S. Pedro e S. Vicente todas em estilo gótico. Anexo ao edifício da Sé está colocado o túmulo de João Gordo. João Gordo foi cavaleiro da Ordem de S. João de Malta e almoxarife de D. Dinis, antes da sua morte, em 1333, mandou esculpir o túmulo onde viriam a descansar os seus restos mortais. O citado túmulo construído em calcário (pedra da Batalha) assenta no dorso de quatro leões e um arco em ogiva encimado por uma cornija com cães lavrados. As faces do túmulo em alto-relevo representam a ultima ceia, o calvário e a coroação de Nossa Senhora. Continuando a viagem podemos encontrar na parte sul do templo o claustro gótico, pertencente aos meados do século XIV-XV. A sua configuração é abobadada com nervuras assentes em colunas fasciculadas. Os capiteis estão revestidos por um único motivo vegetal. A sacristia também em estilo gótico, situada na testeira do braço direito do transcepto com chão de mármore é abobadada em ogiva e dividida por grossos arcos de faces vivas sustentados por consolas em granito embutidos no muro. O seu interior é refinadamente decorado com móveis de valor inestimável, mesas e lavatórios em mármores raros, as guarnições do espelhos, os armários e o relógio em estilo rococó são feitos de pau preto.

Terreiro da Sé; 4050-573 Porto -  222059028
      
    



Igreja dos Grilos (P8)
Construída no século XVI, mais precisamente no ano de 1577 é um dos últimos exemplares em estilo maneirista. A sua construção deveu-se à caridosas doações de alguns fieis e a Frei Luís Alvares de Távora de Leça do Balio que impôs a condição de nela ter de ser sepultado. A frontaria é monumental, composta por dois andares, nela se acumulam frontões, entablamentos, cornijas, pilastras e janelas. No primeiro, três portas com frontões, sendo a do meio ornada com um portal formado por colunas gémeas coríntias sobre pedestais e por um entablamento com pedras no friso. No alto dois nichos vazios, nos extremos duas janelas, e a meio o emblema da Companhia de Jesus, com separação feita por pilastras toscanas. No segundo, ao centro, uma janela e por cima o brasão de Frei Luís Álvares de Távora, a rematar este bloco a Cruz de Malta sobre pedestal. De ambos os lados nichos vazios, por cima destas janelas e a rematar, frontões partidos sustentados por colunas jónicas, das quais rompem pirâmides. As partes externas pertencem às torres, cobertas com grandes volutas, com cúpulas em tijolo. A nave é coberta por abóbada de granito, de volta perfeita em caixotões. As paredes são sustentadas por largas pilastras toscanas, onde estão grandes imagens dos Evangelistas e dos Apóstolos, em barro pintado. Pilastras clássicas enquadram o arco triunfal. Sobre o entablamento, de cornija muito saliente, ergue-se até à abóbada um complicado frontão, guarnecido com motivos jesuítas e flamengos, cortado a meio pelo nicho de S. Lourenço. A capela-mor é coberta por uma abóbada também em caixotões, ocupados por cartelas guarnecidas com pedras. Nas paredes vêem-se pilastras jónicas de fuste canelado e, entre elas, estuques decorativos. Existe também nesta capela um bom painel de João Batista Ribeiro e a imagem de St°. Inácio, única na cidade. Na sacristia, com teto de madeira apainelada, existe um retábulo e quatro quadros emoldurados com boa talha rococó, dos fins do século XVIII. De referir por fim que a sua localização fica num emaranhado de ruas da Zona Histórica do Porto, nas imediações da Sé, mais precisamente no Largo do Colégio.

 Largo do Colégio; 4000 Porto



P9 / P10 / P11 / P12 / P13 (Vista panorâmica - Sé e Igreja dos Grilos / Igreja Nossa Senhora da Vitória / Casa da Rua S. Miguel nº4 / Edifício da Judiciária / Igreja Convento de S. Bento da Vitória)






















Vista panirâmica - Sé Catedral do Porto e Igreja dos Grilos (P9)





Igreja Nossa Senhora da Vitória (P10)
A primitiva igreja de Nossa Senhora da Vitória foi edificada por volta de 1539 pelo bispo D. Fr. Marcos de Lisboa. Esta igreja quinhentista foi erguida no local da antiga Judiaria Nova, no Olival, derivando desse facto, segundo alguns historiadores, o nome que lhe foi dado, para simbolizar a vitória da religião cristã sobre a judaica. "A construção dessa primeira igreja parece estar relacionada com um compromisso estabelecido, no princípio do século XVI, entre a Vereação da Câmara e os mercadores de roupas feitas e usadas (os adeleiros). Estes mercadores, estabelecidos em grande número na Rua de S. Miguel (uma das mais importantes da Judiaria desse tempo), tinham-se mudado para a zona da Ribeira, pensando que lá lhes correria melhor o negócio, por ser um lugar muito mais frequentado. Como este objetivo não foi bem sucedido, decidiram regressar à Rua de S. Miguel (já depois de extinta a Judiaria, em 1496), mas esse regresso levantou algumas divergências entre os próprios mercadores, querendo alguns deles permanecer na Ribeira, ao que se opunham os outros. O rei teve de intervir e a questão foi resolvida. Os mercadores (cristãos novos na sua maioria, ao que parece) ter-se-ão então comprometido a oferecer dinheiro para que a rua fosse pavimentada e edificado um templo nesse local; este será a referida igreja primitiva de Nossa Senhora da Vitória." O atual templo paroquial foi construído, entre 1756 e 1766, para substituir o anterior, pequeno e arruinado. A sua construção foi concebida com dinheiro do bispo D. Fr António de Sousa e com as esmolas dos fiéis, foi benzida em 1769, durante a vacância da Sé (l7661770). No período do Cerco do Porto (l832-34) a igreja foi frequentemente alvejada pela artilharia dos miguelistas postados em Gala, sofrendo consideráveis estragos. Motivo que levou, a partir de 1832, os serviços paroquiais a se transferirem para a vizinha igreja conventual de S. Bento da Vitória. Findo o Cerco, só em 1852 terminaram as obras de reparação na igreja paroquial. Em 1874, um incêndio destruiu o altar de Nossa Senhora da Vitória, aproveitando-se então para se dourarem os retábulos e se fazerem algumas alterações no interior da igreja, substituindo-se algumas das suas decorações mais características. "Construído em estilo clássico com influências jesuíticas, este templo setecentista apresenta uma fachada simples mas agradável, toda em cantaria; abre-a um portal com colunas coríntias, que sustentam um frontão circular aberto, onde se insere o brasão dos Sousa e Arronches (família a que pertencia o bispo que a construiu); no centro da parte superior situa-se um grande janelão gradeado, ladeado por dois nichos sem imagens, encimados por frontões fantasiados. Remata a frontaria um frontão triangular, em cujo tímpano, no centro, figura um sol, alusivo, provavelmente, à Virgem padroeira. A torre, situada entre a nave e a capela-mor, tem base quadrada e termina numa vistosa cúpula piramidal, de pedra, ornada com fogaréus nos cantos. A nave, revestido de estuque, é coberta por uma abóbada de tijolo, sustentada por vários arcos; as quatro capelas laterais têm retábulos de talha rococó, idêntica à que reveste o arco cruzeiro, os púlpitos e duas grandes sanefas. No altar de Nossa Senhora da Vitória existe uma bela imagem da Virgem, em madeira, esculpida por Soares dos Reis (à qual a confraria mandou cortar a face, guardada presentemente no cartório paroquial, por não a achar convenientemente «religiosa», substituindo-a por outra feita por um santeiro). A capela-mor, de silharia e teto de estuque, tem um notável retábulo de talha rococó, do século XVIII, muito superior à dos restantes ornamentos." Do tesouro desta igreja destaca-se um pálio de lhama de prata, com as armas, bordadas, do bispo D. Fr. António de Sousa, e alguns bons móveis do século XVIII.


Rua S. Bento da Vitória; 4050-542 Porto
Contactos: Tel: 222007182   



Casa da Rua S. Miguel Nº4 (P11)
O edifícíi integra-se num conjunto harmonioso, em que está representada a arquitetura portuense dos séculos XVII e XIX. A fachada encontra-se recoberta de azulejos setecentistas, com cenas do quotidiano e paisagens. Esres paineis são provenientes da Sala do Capítulo do Mosteiro de São Bento da Vitória.



Edifício da Judiciária (P12)
Foi no fim do Séc. XVIII que o prédio onde se encontra instalada a Diretoria do Porto da Polícia Judiciária, na Rua de São Bento da Vitória, foi construído. O edifício ainda conserva muitos traços originais, principalmente na sua frontaria, no entanto perdeu algumas características, principalmente no interior, devido a remodelações exigidas pelas sucessivas funções desde meados do Séc. XIX. Algumas destas alterações foram, a alteração do Zimbório (parte mais alta e exterior de um edifício) que fornecia iluminação natural ao interior, a alteração da entrada onde havia um átrio que dava para uma escadaria de pedra, as altas e amplas salas com maravilhosas pinturas e estuques, entre outras. Não se trata de um edifício muito antigo e os seus traços arquitetónicos não são de grande valor, mas a sua história é de interesse devido às várias instituições que o ocuparam antes da Polícia Judiciária. Algumas destas foram o colégio Podestá, em 1853, quatro anos depois o Correio Central, de 1887 a 1907 o Liceu Central do Porto, entre outros...

Rua S. Bento da Vitória, 12; 4050-542 Porto
Contactos: 222006855   





Igreja Convento de São Bento da Vitória (P13)
Situada no meio da Rua S. Bento da Vitória, este templo pertenceu aos monges beneditinos, sendo construída no século XVII no local onde outrora existia uma sinagoga. A fachada é larga e monumental, limitando-se a sua decoração a molduras, com grande predomínio da linha reta. Tem uma divisão de quatro andares, sendo um marco do nascimento de um novo estilo, seiscentista/renascentista, que veio introduzir novas conceções na decoração aliadas a uma estrutura sóbria de fachadas simples. Guardando o templo, na sua parte térrea encontramos separados por pilastras gémeas, cinco arcos de volta inteira. No gradeamento do portão central, veem-se armas da Ordem de S. Bento. Subindo um pouco deparamos com as esculturas de S. Bento, Sta. Escolástica e Sta. Gertrudes, abrigadas por nichos com sobrecéu em forma de concha. Elevando a cabeça ao céu encontramos um janelão jesuítico de grandes dimensões que ilumina o coro alto do templo, acima e correspondendo às dimensões do janelão, o ultimo piso, ladeado por pirâmides, tendo ao centro um nicho que resguarda a imagem de Nossa Senhora da Vitória. Os dois andares superiores fecham e ocultam a abóbada da nave. Cerca de doze metros atrás da frontaria, sobre as capelas laterais, estão as torres com cúpulas de tijolo. O templo cruciforme está coberto por uma abóbada. A preceder a nave existe um átrio, com abóbada de tijolo, na qual se firma o coro alto, decorado com belíssimos baixos-relevos estofados, nela foram também depositados dois órgãos do século XVIII. A decoração mural do coro alto, sobreposta aos cadeirais, é das melhores do país. Compõem-na trinta quadros de madeira esculpida em alto-relevo, dispostos em duas filas e emoldurados com talha rococó. Fecha o coro um balcão balaustrado, obra da primeira metade do século XVII. O interior da igreja esteve revestido a azulejos seiscentistas, dos quais restam apenas alguns no Museu Municipal e nas casas adjacentes ao convento. Seis arcos plenos abrem para as capelas laterais, cobertas de abóbadas apaineladas. Antecedem-nas pequenas balaustradas de pau preto e grades de ferro fundido (modernas). Em três destas capelas existem retábulos de talha barroca da segunda metade do século XVII. A capela-mor é toda abobadada e decorada por caixotões almofadados, tem seis janelas com sanefas entalhadas e grades de ferro. O retábulo em talha barroca-dourada assenta num embasamento de pedra. No corpo elevam-se dois púlpitos com portas rematadas com imagens. A nave do cruzeiro possui uma abóbada compósita: no centro esférica, e nos ramos cilíndrica. Nos topos existem grandes retábulos de talha dourada barroca, que sobe até às cornijas. Os retábulos colaterais são também em talha barroca, mas mais modestos. A cobrir o arco cruzeiro, assente em pilastras dórico-romanas, há uma sanefa de talha rococó, com o brasão da Ordem de S. Bento. O aceso à sacristia faz-se pelo corredor largo forrado por azulejos oitocentistas, realçando-se um lavatório com duas bicas, em granito e de estilo Barroco.
Rua S. Bento da Vitória
4050 Porto