percurso siza vieira (arquiteto)

Quem se dispõe a visitar uma obra de Siza sabe ao que vai. Dentro do seu espírito leva expectativa e ilusão, mas leva também a certeza de encontrar uma obra consistente e madura. Sobre a obra dos grandes mestres cria-se uma espécie de aura, um círculo de adoração, que a transporta para fora dos lugares-comuns. Mas essa aura repousa, em geral, sobre pressupostos muito simples. E o mais simples é, muitas vezes, o mais difícil.
Num tempo em que se navega tanto pela net e em que se fala tanto na globalização, ‘ o saber ver a arquitetura’ obriga à viagem, a ver e sentir a obra, a sua inserção e contemporaneidade. As viagens culturais de arquitetura, e mistas, são uma realidade internacional e mesmo nacional. A Região Porto tem um conjunto de obras de arquitetura contemporânea que, pela sua inserção urbana, valorizam e acrescentam o património cultural. 


As soluções encontradas por Siza, certamente decantadas ao longo dum trabalho árduo de pesquisa, parecem ser óbvias aos olhos do visitante: a obra está implantada onde deve estar; dá corpo como deve, e duma forma elegante, a um programa; incorpora os registos que melhor respondem perante uma determinada memória cultural. E isto já é muito, mas não é tudo. Há edifícios ou arranjos urbanísticos que respondem eficientemente a todas estas coisas e, no entanto, não justificam uma visita. Porque será, então, que as obras de Siza são merecedoras de visita? E porquê umas mais do que outras? Porque manifestam, julgo eu, uma coisa que alguns arquitetos têm e a outros falta: poesia. A poesia na arquitetura, e na arte em geral, não é coisa fácil de se ver, embora seja assunto do olhar, mas não só. A poesia vê-se, sente-se, ouve-se, toca-se. Mas perante o olhar ou o toque, retrai-se, refugia-se nos seus alvéolos inexpugnáveis. O espaço, quando bem ordenado, entra nos sentidos como um Deus na alma. A arquitetura estabelece um protocolo, a poesia quebra-o; a arquitetura fala até um determinado ponto, a poesia emudece; a arquitetura torna o mundo habitável, a poesia abre a hospitalidade; a arquitetura intervém sobre ‘ a carne do mundo’ , a poesia manifesta e compromete o espírito; a arquitetura constrói uma forma para a utilidade, a segurança e o conforto, a poesia inventa uma passagem para o Oriente da razão. Visitem, por exemplo, a Piscina das Marés ou o Museu de Serralves e vejam como a obra de Siza mostra sabedoria e carência, duas virtudes que costumam andar juntas. E isto é poesia. A carência não é necessariamente uma falta de alguma coisa ou uma privação. É também um momento de espera, um compasso que marca o ritmo cardíaco do sedento que se aproxima da fonte. A poesia, como a obra de Siza, nunca mostra tudo. Deixa um espaço de distanciamento e de crítica ao leitor ou ao visitante; abre uma extensão para a pergunta, a inquietação e o espanto. A boa arquitetura respeita o visitante, preza-o, responsabiliza-o, retira-o à menoridade, trabalha para a sua emancipação. O visitante não é um crivo lasso e passivo de emoções. O visitante entrega-se à obra, abraça-a: seja para a desposar, seja para a repudiar. Num caso ou noutro, sempre o visitante leva que contar!

Nuno Higino



Contemporânea é já património e, em muitos casos, qualificada como ‘ de interesse turístico e cultural’ .As várias entidades envolvidas neste projeto – Câmara Municipal do Porto, Ordem dos Arquitetos SRN e Casa da Arquitetura – demonstram o alcance desta realidade e a urgência de a tornar conhecida. Álvaro Siza iniciou a sua atividade de arquiteto neste ambiente cultural. Este mapa dedicado às suas obras facilita a sua localização e uma correta abordagem por parte do visitante. Surge na sequência dos Mapas já editados dedicados a Marques da Silva e Arménio Losa.
Carlos Castanheira
  


legenda



P. 01

Casa Carneiro de Melo 1957-59
Av. da Boavista, 4397

P. 02
Cooperativa do Lordelo 1960-63
R. Professor Augusto Nobre, 193
[alterado]

P. 03
Casa Manuel Magalhães 1967-70
Av. dos Combatentes, 154

P. 04
Habitação Social SAAL, Bouça 1975-77
R. das Águas Férreas

P. 05
Recuperação da Casa e Anexos da Quinta da Póvoa 1984-86
R. do Gólgota

P. 06
Pavilhão Carlos Ramos – FAUP 1985-89
R. do Gólgota

P. 07
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto – FAUP 1986-93
Via Panorâmica

P. 08
Casa César Rodrigues 1987-96
R. Corte Real, 681

P. 09
Edifício de Comércio e Habitação Colectiva 1991-98
R. José Gomes Ferreira, 253
Co-autoria António Madureira

P. 10
Museu de Arte Contemporânea – Fundação de Serralves 1991-99
R. D. João Castro, 210

P. 11
Edifício de Escritórios 1993-97
R. do Aleixo, 53

P. 12
Edifício de Comércio e Habitação Colectiva 1998-2008
R. Domingos Machado / R. de Francos, 148
Co-autoria António Madureira

P. 13
Casa /Ateliê Armanda Passos 2002-06
Av. Marechal Gomes da Costa, 1074

P. 14
Quatro Habitações 2004-11
Av. da Boavista, 3686 a 3722

P. 15
Reabilitação do Jardim da Boavista 2004
Praça Mouzinho de Albuquerque

P. 16
Remodelação da Avenida dos Aliados 2005
Av. dos Aliados
Co-autoria Eduardo Souto de Moura

P. 17
Estação de Metro São Bento 2005
Av. Vímara Peres

P. 18
Sepultura do Poeta Eugénio de Andrade 2008
Largo Soares dos Reis
Cemitério do Prado Repouso, secção 2
GDM. 01
Casa Luís Figueiredo 1984-94
R. Pintor Júlio Resende, 45

GDM. 02
Pavilhão Multiusos 2000-07
Av. Pavilhão Multiusos

MA. 01
Casa Luís Rocha Ribeiro 1960-62
R. Eng. Duarte Pacheco, 502

MT. 01
Quatro Habitações 1954-57
Av. D. Afonso Henriques, 394 / R. Filipe Coelho, 212, 192 e 182

MT. 02
Centro Paroquial 1956-59
R. da Silva Cunha, 107
[parcialmente construído; alterado]

MT. 03
Jazigo Família Siza Vieira 1957
R. de Sendim, Cemitério de Sendim, 4.ª secção

MT. 04
Casa de Chá / Restaurante Boa Nova 1958-63
Av. da Liberdade
Co-autoria Adalberto Neves, António Meneres, Botelho Dias e Joaquim Sampaio

MT. 05
Piscina da Quinta da Conceição 1958-65
Av. Antunes Guimarães

MT. 06
Jazigo Família Martins Camelo 1960
R. de Sendim, Cemitério de Sendim, 2.ªsecção

MT. 07
Remodelação da Casa dos Pais / Casa da Arquitectura 1960-61/2009
R. Roberto Ivens, 582

MT. 08
Piscina de Leça da Palmeira 1961-66
Av. da Liberdade

MT. 09
Casa Ferreira da Costa / Casa Miranda dos Santos 1962-65/1993-96
R. Azenha de Cima, 258

MT. 10
Monumento ao Poeta António Nobre 1967-80
R. Coronel Hélder Ribeiro

MT. 11
Recuperação Edifício Costa Braga / Casa da Juventude e Pavilhões 1993-99
Av. D. Afonso Henriques, 487

MT. 12
Remodelação do Edifício APDL – Administração dos Portos do Douro e Leixões 1995-2001
Av. da Liberdade, Leça da Palmeira

MT. 13
Plano da Marginal de Leça da Palmeira 2002-07
Av. da Liberdade / R. Coronel Hélder Ribeiro

OAZ. 01
Agência Bancária 1971-74
Praceta António José Basto 5

OAZ. 02
Edifício de Escritórios Ferreira & Castro 1989-95
Av. Dr. António José de Almeida 293/297


PVZ. 01
Casa Alves Santos 1964-70
R. de José Régio, 272

PVZ. 02
Casa Beires 1973-76
R. Doutor Alberto Pimentel

STR. 01
Casa António Carlos Siza 1976-78
R. São João de Deus

STR. 02
Quartel dos Bombeiros Voluntários de Santo Tirso 2010-2012
Quinta de Geão

VLC. 01
Habitações Vila Cova 1970-72
Av. Infante D. Henrique / Av. Dr.Carlos Pinto Ferreira
[alterado]

VLC. 02
Agência Bancária 1978-86
R. 25 de Abril, 45

VLC. 03
Requalificação Urbana do Parque Atlântico 2000-07
Av. Manuel de Barros / Av. do Brasil / Av. Marquês de Sá da Bandeira

VNG. 01
Casa Margarida Machado 1979-87
Av. Gomes Guerra, 1090