Mosteiro de Alcobaça

Esta abadia, também conhecida por Mosteiro de Alcobaça, dedicada a Santa Maria, é o primeiro edifício plenamente gótico em Portugal (sofrerá, mais tarde, transformações no período barroco), embora os seus planos sejam originários de França, numa tentativa de duplicação da abadia de Claraval (fase III), como era comum na orgânica da Ordem cisterciense. Segundo a sua Carta de Couto, a fundação do templo data de 1153, apesar de as prospeções do terreno efetuadas pelos monges, provavelmente oriundos de S. João de Tarouca, lhe serem anteriores. Instalados de modo não definitivo no chamado "mosteiro velho", só em 1178 reúnem as condições necessárias à edificação da nova abadia, nascida no seio de uma comunidade religiosa mais numerosa. Os monges haviam preparado o terreno de modo a facilitar a consequente fixação populacional (arroteamentos, etc.). Obra estrategicamente implantada no centro do território, com um estaleiro cujas dimensões se afiguram excecionais, teve que necessariamente recorrer à importação de mão de obra, facto esse comum dentro da Ordem de Cister. Toda a construção obedeceu às diretrizes emanadas de S. Bernardo, abade de Claraval, fiel opositor do abade de St. Denis, Suger. Aquele pretendia reformar a Ordem fazendo-a regressar ao estado de pureza original, uma vez que estava adulterada pelo luxo e ostentação. O edifício construído devia simbolizar a nossa progressão interior, rigorista e simultaneamente mística. A verdadeira beleza emana da luz, do homem e da natureza, e provém de Deus - nada nos poderá desviar da comunhão algo "ascética" do espaço litúrgico com o seu Deus. Em 1223 os monges mudam-se para a nova abadia, uma vez que as principais dependências estavam concluídas. Em 1252 o templo é dedicado, mas os trabalhos prolongaram-se por mais algum tempo. O dormitório foi uma das primeiras dependências a ser realizadas, como atesta a sua simplicidade (três naves iluminadas por frestas; abóbadas com cruzaria e arcos formeiros ogivais, assentes em colunas). Este esquema geral é seguido no refeitório, sala dos monges e parlatório (que revela mais simplicidade). A igreja teve pelo menos três fases distintas. Possui planta de cruz latina com três naves abobadadas - as colaterais, de igual altura em relação à central, apresentam metade da largura -, transepto de duas naves (onde se encontram os magníficos túmulos de D. Pedro e de D. Inês de Castro) e cabeceira com deambulatório onde se abrem nove capelas radiantes. As abóbadas das naves são de ogivas com molduras fortes e simples; as naves são separadas por doze pares de grossos pilares de grande perímetro. A Sala do Capítulo, de grande destaque, é provavelmente de meados do século XIII e revela uma estrutura mais elaborada. O claustro, mais tardio (século XIV), assume particular importância, pois irá influenciar os das Sés de Coimbra, Lisboa e Évora, e inspira-se nos sistemas de suporte já enunciados para outras dependências. A ornamentação do conjunto é extremamente contida e discreta, como atesta a folhagem dos capitéis, criando, a par com a brancura da pedra, uma atmosfera quieta, imperturbável, de irrevogável austeridade. A coerência espacial obedece a uma simbólica e a um esquema regrador e proporcional característico da Ordem de Cister. Embora interiormente estejamos em presença de um gótico depurado e avançado, o exterior parece querer remeter-nos para a singeleza cisterciense - ausência de torres, paredes contrafortadas (na cabeceira estão os únicos arcobotantes que são simultaneamente os primeiros a ser realizados em Portugal), fachada ritmada por empena triangular e coroamento de merlões. Preside-lhe um ar geral de fortaleza militar. O Mosteiro foi classificado Património Mundial pela UNESCO em 1989.

 Planta do Mosteiro

1-Portal  2-Nave central  3-Capela-mor 4-Deambulatório  5-Sala dos Reis  6-Sala das Conclusões  7-Lavabo  8-Refeitório  9-Cozinha  10-Sala dos Monges  11-Parlatório  12-Sala do Capítulo  13-Sacristia  14-Claustro de D. Dinis

1.Da fachada antiga apenas restam o Portal gótico e a rosácea. O portal está está ladeado pelas estátuas de S. Bento e de S. Bernardo. A fachada principal do Mosteiro a ocidente foi alterada entre 1702 e 1725 com elementos do estilo barroco. A escadaria da entrada, com as suas decorações barrocas, data, igualmente, deste tempo.
2.A Nave Central e as naves laterais são inteiramente abobadadas. Com pequenas aberturas, característica do período românico, as naves, pouco iluminadas, parecem alongar-se para o céu. Criando uma sensação de verticalidade.

   1.Portal / Rosácea   /   Fachada                                              2.Nave Central 


3.A Capela-Mor tão alta como as naves laterais é delimitada por oito colunas, dispostas em semicírculo sobre um murete. É envolvida por deambulatório de capelas radiais. O reforço por arcobotantes possibilitou a abertura de dois andares, que inundam de luz o local da celebração eucarística.
4.O Deambulatório, com abóbada nervurada, é uma obra complexa. Articula-se com a nave por intermédio de duas paredes opostas, marcadas por dois pilares nos extremos e de cada lado; oito colunas de grande diâmetro e robustez com ornamentação vegetalista muito simplificada, sustentam arcos quebrados.
5.A Sala dos Reis, antiga capela salão construída no século XVIII, denomina-se assim por aí estarem expostas esculturas em terracota policromada representando os reis de Portugal, de D. Afonso Henriques a D. José. O conjunto é completado com uma alegoria à coroação de D. Afonso Henriques pelo Papa Alexandre III e por São Bernardo.
6.Sala das Conclusões
                3.Capela-Mor                                      4.Deambulatório                        5.Sala dos Reis 



7.O Lavabo situado em frente da entrada do refeitório. É constituído por um poço com água corrente, no qual os monges se podiam lavar antes das refeições. Esta disposição é típica de mosteiros cistercienses. O lavabo é igualmente alimentado pela água da própria conduta de água potável.

8.O Refeitório é constituído por um pavilhão com três naves Por cima da entrada encontra-se uma inscrição em latim de difícil interpretação: respicte quia peccata populi comeditis (lembrem-se que estão a comer os pecados do povo). A sala impressiona pelas suas proporções, possuindo janelas tanto do lado norte como a leste. Do lado oeste, uma escada de pedra conduz ao púlpito do leitor, que lia textos da Ordem durante as refeições.

9.A Cozinha com uma imponente chaminé assenta sobre oito colunas de ferro fundido, uma inovação construtiva para a época.

10.A Sala dos Monges era uma dependência utilitária, onde se alojou o noviciado em finais do século XV até à sua transferência para o Claustro do Cardeal no final do século XVI. A sala dos Monges dispõe de acesso direto ao exterior e de um pavimento disposto em patamares que se subordinam à topografia envolvente
                   7.Lavabo                           8.Refeitório                         9.Cozinha                   10.S. dos Monges


11.O Parlatório encontra-se ao lado da Sala do Capítulo. Era apenas neste espaço que os monges estavam autorizados a falar com um representante do abade. Por princípio, os monges estavam obrigados ao silêncio, com exceção da reza. Por esse motivo, muitos utilizavam uma linguagem gestual.

12.A Sala do Capítulo, principal dependência monástica, era aqui que se reuniam os monges para debater assuntos de interesse da comunidade. Salienta-se a entrada em triplo arco de volta perfeita e o interior, de três naves de três tramos. À entrada encontra-se a sepultura seiscentista de um abade. Conta a tradição que quando a vida de um abade não era exemplar, como castigo, era enterrado à entrada da Sala do Capítulo, para que os seus irmãos, numa suprema humilhação, pisassem a sua sepultura.

13.A Sacristia mandada construir pelo Rei D. Manuel I no início do século XVI, desapareceu por completo com o terramoto de 1755, restando apenas o átrio e o portal. Foi reconstruída em 1770 adotando claramente a estética Barroca.

14.O Claustro de D. Dinis, edificado no século XIV, constitui o coração do Mosteiro em torno do qual se desenvolvia o quotidiano dos monges. À sua volta encontram-se as Dependências Medievais: Sala do Capítulo, Refeitório, Sala dos Monges, Dormitório, Parlatório e Cozinha.

                   12.Sala do Capítulo                                                        14.Claustro de D. Dinis 

         Túmulo de D. Pedro                    Túmulo de D. Inês de Castro                  Sala dos Túmulos

                         Nave Lateral                                                          Transepto